quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Cuidado extra com a química dos produtos de beleza

Componentes de fórmulas podem ser vilões para pele e cabelos

 

Qual o preço que se paga para manter o visual impecável? Manter os cabelos lisos e sedosos pode representar um custo à saúde e o filtro solar nem sempre é o mocinho que pintam por aí. Conheça as dores e as delícias dos tratamentos de beleza e cosméticos

Os procedimentos químicos são considerados os grandes vilões da saúde dos cabelos. Isso não quer dizer que tinturas e alisamentos devam ser banidos da lista das delícias femininas — basta observar os cuidados necessários. O formol, por exemplo, só é permitido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária quando usado como conservante, e não como alisante. Por isso, a concentração máxima liberada pelo órgão é de 0,2%. O glutaral, outro potente conservante, ainda mais forte que o formol, pode ser usado desde que a concentração seja de até 0,1%. Tanto um quanto o outro, se usados em concentrações inadequadas, podem causar reações adversas variadas, como coceira e ardor nos olhos e no couro cabeludo, queimação, tosse, rouquidão e até problemas graves, como a pneumonia química, que pode levar à morte.
Por isso é importante ler os rótulos dos produtos usados no salão e pedir para o profissional fazer o teste da mecha, que é a aplicação do produto num pedacinho do cabelo para observar se há reação — orienta o médico. — Não indicamos tratamentos com química forte, até porque já existem procedimentos que não agridem os fios e são eficientes — completa Marcos Proença.

A recomendação vale também para as tinturas que, no geral, contêm alta concentração de aminas primárias. Uma vez absorvidas pelo organismo, elas têm alto poder cancerígeno, daí a proibição de mulheres grávidas tingirem os fios. Como a velocidade de reprodução das células fetais é enorme, a mãe que se expõe às aminas na gravidez está arriscando que o bebê desenvolva um câncer antes mesmo de nascer — alerta o cosmetologista Maurício Pupo. 

Além de questões de saúde, as tinturas danificam os fios. Por isso, Luciano Barsanti recomenda que, entre um procedimento químico e outro, haja um intervalo de um mês, além de sessões de hidratação à base de ativos naturais (como óleo de coco, extrato de rosas brancas e de sálvia) a cada 10 dias. A química deixa o cabelo poroso, sem vida e sem brilho. Se feito da maneira correta, não há contraindicação para o alisamento e a tintura. Mas tem que cuidar — pondera. 

De olho no filtro

No fim do ano passado, uma avaliação feita pela Pro Teste Associação de Consumidores testou os 10 filtros solares com fator de proteção 30 mais usados no país. Só dois foram aprovados: o L’Oréal Expertise e o Cenoura & Bronze. Sete foram reprovados por conter benzofenona-3 na formulação, substância considerada cancerígena. Alguns deles, inclusive o Sundown, perderam até 50% do fator de proteção quando expostos ao sol, outros, embora dissessem na embalagem que eram resistentes à água, perdiam proteção quando submersos por alguns minutos. Foram testados pela associação Avon Sun, L’Oréal Expertise, Cenoura & Bronze, Heliobock da La Roche Posay, Episol Loção Oil Free, Coppertone Loção, Sundown Complex, Natura Fotoequilíbrio, Nivea Sun e Banana Boat Bloqueador Solar Ultra.

Mocinho ou vilão?

O filtro solar faz parte da rotina de cuidados diários de muita gente. Mas a verdade é que o uso continuado do produto ainda causa polêmica entre médicos, cientistas e cosmetologistas. Enquanto alguns defendem que se munir do produto é a melhor arma contra doenças de pele desencadeadas pela exposição ao sol, outros alegam que, a longo prazo, a composição química dos filtros poderia causar, inclusive, aquilo que ele deveria ajudar a manter afastado: o câncer.

A principal culpada pelo imbróglio é a benzofenona-3, também conhecida como oxibenzona, bloqueador solar sintético presente em alguns filtros que protegem a pele contra os raios UVA. Segundo o cosmetologista Maurício Pupo, essa substância entra na corrente sanguínea e, mesmo cinco dias após uma única aplicação, ainda é eliminada na urina. 

Além da alta capacidade de penetração na pele, a benzofenona-3 é uma molécula estrogênica, ou seja, uma vez no organismo, ela atuaria da mesma forma que o hormônio feminino estrogênio, causando um desequilíbrio hormonal que, por sua vez, poderia aumentar nas mulheres o risco de câncer de mama e de útero e levar a problemas na tireoide. Em testes, ratas fêmeas que receberam doses de oxibenzona tiveram aumento do tamanho do útero e os machos apresentaram diminuição no tamanho das genitais. Além disso, essa substância é uma das maiores responsáveis por alergias aos filtros, que não são graves, mas incômodas — alerta o cosmetologista. Não é que se deva abandonar o filtro, mas já existem opções no mercado sem a benzofenona-3. Basta ler atentamente o rótulo — aconselha Pupo.

O dermatologista especialista em proteção solar Sérgio Schalka alerta que essas pesquisas com ratos de laboratório foram feitas há muitos anos. Recentemente, a entidade que norteia o uso de cosméticos na Europa concluiu que a ação estrogênica desse bloqueador é um milhão de vezes menor que a ação do próprio estrogênio. Além disso, faz pelo menos 30 anos que o protetor é usado em grande escala e nenhum desses efeitos foram comprovados clinicamente.

Outro aspecto preocupante é o fato de que os bloqueadores solares como a benzofenona seriam potentes geradores de radicais livres, que poderiam levar ao aparecimento do câncer de pele. 

por CORREIO BRAZILIENSE

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