quinta-feira, 21 de abril de 2011

Salões de beleza oferecem serviços exclusivos para homens

Incentivado pela mulher, Roberto cuida do visual no Studio Lorena. Em casa, o cabelo é tratado com uma linha para homens composta por xampu, condicionador e finalizador
Foto: Amana Salles/Fotoarena
Eles estão buscando ambientes personalizados

Roberto Almeida Prado, 34, aproveita o horário de almoço para cuidar da beleza. Executivo de um grande banco, ele aceita falar ao iG sobre vaidade, mas já sabe que terá que aguentar a “zoeira” dos colegas de trabalho. Em contrapartida, no salão, não há constrangimento. O cliente é atendido em uma sala especial para homens, no piso superior do Studio Lorena, na zona sul de São Paulo.

O ambiente é sóbrio, gelado e tem revistas masculinas à disposição. Roberto é recebido por Luiz Silva, responsável pelo corte e coloração. “Faço um tipo de tonalização no cabelo dele, para dar uma maquiada nos poucos fios brancos”, explica o hair stylist. Do lavatório, o cliente ouve o papo e pede: “Fala que é de homem, Luiz”. O cabeleireiro acha graça e diz que os homens ainda buscam uma posição confortável entre a vaidade e a macheza.É nesse contexto que a personalização do atendimento faz a diferença. Segundo Maria Amélia Abdala, responsável pela Targets Eventos, o homem moderno anseia por cuidar da aparência, mas sem perder suas características tão próprias, como a virilidade e o bom-humor. “Ele não vai comprar um produto para olheira, mas sim um creme rebate ressaca”, exemplifica a executiva, que neste mês promove o evento Men´s Beauty Show, em São Paulo.

Também na capital paulista, o badalado salão Marcos Proença reserva um ambiente bem masculino aos clientes, longe do burburinho das moças e senhoras que por lá passam. “A sala é fechada e mais afastada”, diz o cabeleireiro Vinicius Silveira. Segundo ele, o reflexo inverso é o campeão de pedidos entre os maduros. A técnica, semelhante às luzes em cabelos femininos, cria mechas mais escuras ao substituir o pó descolorante pela tintura. No melhor estilo Richard Gere, é possível disfarçar os fios brancos sem perder a naturalidade do cabelo grisalho.

Além das salas especiais, muitos salões direcionam o foco exclusivamente para o público masculino. Bom exemplo é o Red Salon, na capital carioca, no qual mulheres não entram. “Elas até tentam, mas a gente barra gentilmente”, garante o gerente da unidade Copacabana, Jorge Luiz Mathias Filho. “Pode ser constrangedor para um homem cuidar da beleza ao lado de uma mulher. Aqui eles ficam à vontade, tomam cerveja, contam histórias e jogam PlayStation com os amigos”.



Foto: Geraldo Bubniak/Fotoarena
Cerveja, aliás, é item indispensável nos salões só para homens. Na sala de espera do Barbearia Clube, em Curitiba, uma geladeira da Heineken disponibiliza marcas importadas geladíssimas. A masculinidade ainda pode ser notada em outros detalhes, como nas revistas Playboy, na mesa de futebol de botão e nos doces e salgados servidos despretensiosamente – todos de boteco. A limpeza de pele é chamada de “faxina na cara” e o “Dia de Rei” agrupa serviços de beleza em pacotes.

Segundo a proprietária do estabelecimento, Meire Ferreira, o despojamento alivia o constrangimento do homem em se submeter aos procedimentos estéticos. De jovens modernos a senhores distintos, cerca de mil e quinhentos clientes passam pelo salão mensalmente. “Eles estão começando a frequentar cedo. Hoje, aos oito anos, os meninos não querem mais ir à cabeleireira com suas mães. É chato, dá vergonha. Então eles vêm com os pais”, diz.


Mas ainda há muito para ser conquistado. Nem todos os homens topam assumir a vaidade em público, seja entre as mulheres ou em clubes do Bolinha. Para os mais conversadores – ou quem sabe, com menos tempo – o atendimento no escritório ou na própria residência é a saída. Ramon Quinhones, do Absolute Corpo e Beleza, costuma prestar serviços delivery. “Vou com a equipe toda, inclusive manicure. É comum marcarem entre um compromisso e outro ou aos domingos, quando eles têm algum tempo livre”, diz.

Barba, cabelo e... depilação 

Foto: Geraldo Bubniak\Fotoarena
Após cuidar do cabelo, Roberto está reticente e não quer mexer nas sobrancelhas. “Eles dizem que eu preciso tirar um pouco para dar uma leveza, mas tenho medo de não ficar natural”, conta ele, enquanto se observa no espelho.

O bancário ainda não sabe, mas seu dilema não é nada perto de uma nova moda. Agora, eles fazem depilação íntima completa. Com-ple-ta!

Sobre o serviço – um tanto controverso – Meire define bem: “É frente e verso”. Entre os habitués está um senhor de 60 anos. “Geralmente, as mulheres pedem para que os seus maridos façam. E depois que eles depilam pela primeira vez e experimentam a sensação de leveza e higiene, não param mais”, garante. Nos outros salões consultados, a grande procura pela remoção de pelos sinaliza uma preocupação recorrente entre os homens. “Eles estão buscando soluções, principalmente para lidar com os pelos”, analisa Maria Amélia.

A beleza dos homens em números
 

• R$100 é o preço para fazer a depilação íntima completa no Barbearia Clube.

• 5 minutos é o tempo que leva para tonalizar o cabelo com o Cover 5, produto da L’Oréal especialmente desenvolvido para homens – e usado por Roberto.

• Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC), o mercado brasileiro de produtos masculinos movimentou US$ 2,29 bilhões no ano de 2009, mantendo segunda colocação no ranking mundial, com participação de 8,6%.

• O País só perde para os Estados Unidos, que somam 18,1% do mercado mundial e US$ 4,83 bilhões em faturamento.

• Apesar da vaidade crescente, os homens ainda são minorias nas salas de espera dos cirurgiões plásticos. De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, 55 mil homens se submeteram a algum procedimento estético em 2009, contra 402 mil de mulheres.

• Dos homens que procuram um cirurgião plástico em busca de algum procedimento estético, cerca de 60% vão acompanhados por suas esposas ou incentivados por elas, garante o médico David Di Sessa, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.

por Paula Balsinelli (iG, São Paulo)

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