Experiências de empreendedores com políticas ambientais mostram que
pequenas empresas podem ser sustentáveis e competitivas ao mesmo tempo
Fabiana Gondim não estava preocupada com o meio ambiente quando abriu
seu salão de beleza em Natal (RN). A sua maior preocupação era se manter
competitiva. Ela precisava reduzir custos, mas não queria recorrer a
produtos de segunda linha nem piorar o atendimento aos clientes. A
solução foi buscar uma forma um pouco mais racional de usar os produtos
no salão. "O que mais incomodava era o controle dos produtos. As
aplicações eram sempre feitas no olhômetro, uma estimativa, mas ninguém
sabia dizer qual era a quantidade necessária." Fabiana desenvolveu uma
técnica inovadora, batizada de HairSize.
Com ferramentas simples, como
réguas e balanças, ela calcula o volume do fio de cabelo e consegue
saber a quantia exata de tinturas e produtos para cada cliente. E após
aplicar esse método, conseguiu economizar em até 60% os gastos com
consumo de produtos. Mas a grande surpresa estava do lado de fora do
salão. Fabiana percebeu que não estava mais gerando a mesma quantidade
de lixo. O salão reduziu em 70% o descarte de compostos químicos usados
na coloração de cabelo, 53% de amônia, um subproduto do xampu, e em 27%
no consumo de água.
A experiência bem-sucedida do HairSize mostra o que muitas outras pequenas empresas estão percebendo: a adoção de práticas sustentáveis ajuda não só o meio ambiente, mas é uma forma de melhorar a competitividade da empresa e reduzir custos. "Estudos mostram que pequenas empresas conseguem melhorar financeiramente ao adotar práticas sustentáveis. O empreendedor reduz o desperdício, diminui resíduos, consome de forma mais eficiente e atinge consumidores com consciência ambiental", diz Enio Pinto, gerente de inovação e tecnologia do Sebrae.
Enio coordenou uma sondagem em que foram entrevistados quase 4 mil
pequenos empreendedores. A pesquisa "O que pensam as micro e pequenas
empresas sobre sustentabilidade" mostra que a maioria dos pequenos
empreendedores está ciente dos problemas ambientais - só 2% dos
entrevistados disseram não conhecer nada sobre meio ambiente, e 75,2%
dos entrevistados disseram que as questões ambientais são muito
importantes para as pequenas empresas.
A pesquisa diz que o pequeno empreendedor está mais consciente. O
problema está na hora de aplicar esse conhecimento no dia a dia da
empresa. Os números mostram que muitos empreendedores não sabem o que
fazer na área ambiental e não pensam nessas questões como estratégia de
mercado. Para mais da metade dos entrevistados, a sustentabilidade não é
considerada como uma oportunidade de negócios - em outras palavras,
esses empresários temem que adotar práticas ambientais possa encarecer
seus produtos e resultar em perda de competitividade.
Para Enio Pinto, as pequenas empresas devem adotar políticas ambientais
exatamente porque elas são uma oportunidade para melhorar o desempenho e
a lucratividade da empresa. Um dos exemplos é a Cachaçaria Extrema, uma
propriedade de 150 hectares no interior do Rio Grande do Norte que
produz cachaça artesanal. A cachaçaria começou em 2004, e desde então já
colocou em prática 12 ações sociais e ambientais. Segundo Anderson
Faheina, diretor da Extrema, as políticas ambientais expandiram o acesso
da cachaçaria ao mercado, atendendo a um público consumidor que hoje
está optando por produtos que não causem dano ao meio ambiente. "As
ações ajudam a diferenciar a minha marca. O público passa a ver a
empresa como mais amigável. Os clientes visitam a produção e conhecem o
nosso trabalho", diz.
O trabalho da Extrema exemplifica a tese de que políticas ambientais
melhoram o desempenho da empresa. Em um dos projetos, a Extrema investiu
na construção de saneamento básico para a propriedade, e estendeu o
saneamento e tratamento de esgoto às casas do entorno. A ação melhora o
meio ambiente, a comunidade local, e ainda mostrou retorno econômico
para a empresa. Isso porque o esgoto deixa de poluir água e solo
utilizados na produção, e o tratamento ainda gera resíduos que podem ser
usados como adubo. "Não são gastos ou custos com meio ambiente. São
investimentos, que geram retorno direto para a empresa, e ainda causam
um impacto benéfico no ambiente", diz Faheina.
Por enquanto, o impacto positivo das medidas socioambientais no
ambiente é pequeno. Diferentemente de uma grande empresa, que pode
mobilizar grande parte de recursos financeiros e mão-de-obra para
projetos ambientais, as ações das pequenas empresas têm efeito local.
Mas o cálculo muda quando se leva em conta o total de pequenas empresas.
Há hoje no Brasil cerca de 6 milhões de empresas formais, e cerca de
99,1% são pequenos empreendedores. Se todas as pequenas empresas
partirem para a sustentabilidade, o benefício pode ser maior do que o
esperado. "Sem a participação da pequena empresa, não há jogo. Mas ela
tem que entrar como um todo. É preciso educar, massificar os bons
exemplos, dar visibilidade, para que o pequeno empreendedor seja
protagonista no debate da sustentabilidade", diz Enio.
Tanto Faheina quanto Fabiana Gondim estão satisfeitos com os resultados
dos projetos ambientais em suas empresas, e recomendam que todos os
pequenos empreendedores promovam ações ambientais. Mas a grande maioria
dos pequenos empreendimentos não tem estratégias de negócios que
envolvam as questões sociais e ambientais. A melhor abordagem é que cada
empresário atue de acordo com a realidade em que sua empresa está
inserida. Ainda assim, algumas medidas simples costumam trazer
resultados positivos para a maioria das empresas, como o tripé formado
por eficiência energética, reaproveitamento da água e gestão dos
resíduos sólidos.
por Bruno Calixto (Revista Época)
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